quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A PRIMEIRA PUBLICAÇÃO DO ANO NÃO TEM FOTO

A PRIMEIRA PUBLICAÇÃO DO ANO NÃO TEM FOTO.
SÃO AS PALAVRAS DA PESSOA QUE COMPROU A FOTOGRAFIA DA MAIOR ONDA DO MUNDO/LEILÃO SOLIDÁRIO. É UM TEXTO QUE ME COMOVEU. É UM TEXTO PARA TODOS OS PEDROS DA NOSSA CIDADE.
OBRIGADO,

O Pedro Agostinho Cruz é um fotojornalista da nossa terra, aqui da Cova-Gala, e teve um gesto de extremo altruísmo colocando a leilão, a favor da Associação de Bodyboard da Foz do Mondego, que ficou sem instalações com a Tempestade Leslie, a foto da sua autoria que levou a chancela do Guiness como a oficial da maior onda surfada do mundo, na Praia do Norte, na Nazaré. A foto está autografada pelo Rodrigo Koxa, auto da proeza no mar, o pontinho que se vê em cima de uma prancha no meio daquela muralha de água.
Lancei um desafio ao Pedro sobre este assunto porque me pareceu ser a melhor forma de dar o meu pequeno contributo a um gesto tão grande, e nobre. Assim conseguisse acompanhar o leilão, e ele garantia-me três questões adicionais: deixava-me oferecer-vos a foto para ser exposta na Escola e, oxalá, vir a ser uma inspiração para os miúdos; disponibilizava-se para ir à Escola, em dia a combinar convosco, falar da foto aos miúdos, e do trabalho dele e do muito que esta foto, e este gesto, esconder o meu envolvimento neste assunto ficaria apenas do conhecimento dele, e do vosso, porque mais que isso nada acrescenta, e eu assim prefiro, até porque isto é algo a titulo individual.
Esta foto esconde muito do que a vida ainda não deu a conhecer aos miúdos que todos os dias formam, e, por isso, creio que poderia ser um bom contributo. Os distraídos pensarão que um e outro, o Rodrigo e Pedro, estavam apenas no sitio certo, à hora certa, e que, portanto, muito disto é apenas uma obra do acaso, uma sorte, tipo lotaria. Na verdade, e como já dizia o Séneca na Roma antiga, a sorte é o resultado da conjugação da preparação com a oportunidade, e dá muito trabalho.
O Pedro terá andado quase dez anos atrás desta oportunidade. Muitas madrugadas a caminho da Nazaré para se empoleirar num penhasco, num dia frio a passar horas e horas à espera do melhor momento. Antes e durante teve de investir muito em material e formação. E tentar, e falhar, e voltar a tentar. E muitos outros também o fizeram e mesmo assim não foi suficiente.
O Rodrigo percorreu meio mundo atrás das super-ondas com muito tempo de viagens, de espera, com muito desconforto no mar naqueles dias em que a maior parte não quer chegar nem perto, com muitas quedas e com risco da própria vida, em cada onda surfada, a desafiar a força brutal da natureza, em ondas com o tamanho de prédios de 10 andares.
Um e outro tiveram sorte, sim. Mas fizeram muito por isso. Persistência, resiliência e dedicação são tudo eufemismos para descrever o caminho e o resultado, e julgo como muito importante que os miúdos percebam isso.
O Pedro pertence a uma geração de Figueirenses de grande gabarito na fotografia. Cada um deles, especialmente os deste grupo de espíritos que estão a voar já muito alto, percebeu também que as mudanças do mundo e dos paradigmas da empregabilidade clássica lhe podiam ser madrastos. Podia o Pedro, e podiam alguns outros, ter apenas feito aquilo a que com algum simplismo a sociedade atribui à sua geração: resignar-se e queixar-se. Mas felizmente não. Preferiram estudar, aprender, investir, tentar, melhorar, comunicar, diferenciar-se numa área em que sobram indivíduos ‘apenas’ com boas máquinas, e caminhar com a vida às costas, para o único sitio onde a concorrência será sempre menor. A excelência.
E isto é muito ser empreendedor, o que tentamos incutir na juventude, mesmo que o Pedro não o pareça à primeira vista. Mas é-o.
Também contrariando os rótulos atribuídos aos mais jovens, de individualismo, de sobranceria e de soberba em relação aos problemas de terceiros, o Pedro tem vindo a deixar uma marca. Provavelmente com prejuízo pessoal imediato, mas por achar que há valores que se levantam mais alto que tudo isso. Este leilão pode ser o corolário, mas a dedicação dele aos assuntos da terra que o viu nascer, como a erosão costeira que finalmente se materializou numa exposição fotográfica, que esteve patente no CAE, ‘Alerta Costeiro’ é vasta. E isto não pode ser um pequeno detalhe, especialmente na deriva de valores a que todos assistimos nesta sociedade.
O Pedro foi recentemente reconhecido pela Junta de Freguesia de São Pedro, mas é de elementar justiça que a sociedade civil amplifique alguns dos seus gestos filantrópicos, para que sirvam de exemplo a outros, especialmente em alturas em que se formam como cidadãos e onde as escolhas serão particularmente importantes para o futuro.
Fiquei muito contente pelo facto do Pedro ter agarrado neste desafio com muita energia, e de, com a ajuda dele conseguirmos visar dois objectivos, o inicial do Pedro, da ABFM, e este, dele, e da foto, vos virem a ser úteis na Escola, para a formação dos alunos e, principalmente, dos cidadãos do amanhã.
Para quem tanto gosta de se transcender em recordes, e de inconformismos saudáveis, e no meio do Projecto da Escola Azul, e dos oceanos, pareceu-me ter a vossa marca. Espero que assim seja!
Se bem vos parecer, depois combinamos um dia para irmos à Escola, e o Pedro vos entregar a foto, podendo aproveitar para combinar a sessão dos alunos convosco. Por nós poderia ser sexta-feira.

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Daniela&João